sexta-feira, 11 de julho de 2008

Torcendo pelo touro


Do dia 7 ao dia 14 de julho, todo ano na cidade de Pamplona, na Espanha, acontece a cretina Festa de São Firmino. Nada a ver com o santo, coitado, que deve estar se revirando em seu túmulo na Catedral francesa de Amiens.

Pois os habitantes de Pamplona, onde nasceu Firmino, desde 1911, correm nessa época do ano na frente de um touro, solto pela rua, tentando não ser chifrados ou atropelados por um percurso de 825 metros. Desde então quatorze pessoas sem cérebro já fizeram o favor de abandonar o mundo. O último foi esta semana quando também 89 idiotas ficaram feridos, apenas no primeiro dia.

Em um país que se orgulha das cruéis touradas em que sempre se maltrata o pobre do animal, a festa de São Firmino tem ao menos uma coisa boa: é a revanche do touro.



Felipe Muanis

Diretor de arte e ilustrador

13 comentários:

Anônimo disse...

Taí, é um desses (projetos de) cartazes (deste blog) que valeria a pena de se ver impresso e colado nas paredes.

Anônimo disse...

O cartaz é lindo, mas acho muito delicado fazer uma crítica tão forte aos espanhóis. Ainda mais vindo de um brasileiro que mora num país onde pessoas se esfaqueiam, trocam tiros e apedrejam ônibus por causa de uma bola estúpida de futebol. Pessoas que mijam e cospem na cabeça de torcedores de times adversários dentro de estádios. E ainda políticos que roubam descaradamente o dinheiro da CPMF enquanto pessoas no Brasil inteiro morrem em corredores de hospitais que nem macas possuem! Concordo que a corrida de touros é uma brutalidade. Porém, infelizmente, é um ritual que vem de uma cultura muito mais antiga que a nossa e por isso muito longe da nossa rasa compreensão. Assim como os rituais de passagem de índios que fazem os meninos colocarem seus braços em potes cheios de abelhas ou formigas, ou como tribos africanas que possuem rituais de circuncisão (e também os judeus). Não devemos questionar o ritual que é parte fundamental de qualquer cultura e muito menos desclassificar aqueles que tentam mantê-lo. Afinal, essas pessoas estão apenas “cumprindo tabela”, ou seja, foram apresentadas a essa cultura desde que nasceram e não vêem nada de mau nisso. Acho que devemos olhar para o nosso próprio rabo antes de questionar o rabo dos outros...

Semana em Cartaz disse...

Concordo Josiele com a questão cultural que pode estar fora da nossa compreensão tupiniquim, mas que eu torço pelo touro, eu torço!

minini

Anônimo disse...

Concordo com o Muanis. E sobre futebol, política, religião é de extrema validade fazer qualquer tipo de crítica sobre outra cultura caso você não tenha "rabo preso" com tais questões. Não é porque você é brasileiro que não se deve ter um olhar crítico sobre outra cultura e sim por ser crítico com todas as culturas, independentes do time de futebol, do partido político ou da religião.

Anônimo disse...

claro que faz parte da cultura espanhola, mas não justifica. Se os povos antigos não tinham compaixão, temos que evoluir e enxergar que certas coisas não levam a nada. Salve a foca bebe que vira casaco porque já foi moda! e o touro! e o boi! e tantos...as atrocidades do Brasil e do mundo, são questionáveis mas não precisam virar espectáculo. Pelo menos a meu ver , são dignos de denúncia e não de aplausos.
amei o blog, o cartaz e tudo, saudade felipe...
bj

Anônimo disse...

Eu estava olhando para o rabo do touro, e não dos espanhóis. É o rabo deles que vira troféu, não o dos espanhóis.
Mas falando sério, Josieli, não me interprete mal, agradeço o elogio mas quero digressionar sobre essa saudável discussão.
Concordo com o que fala, com relação à cultura. Mas em nome dela também, historicamente, se fazem barbaridades. Não é pelo fato de ser brasileiro que sou conivente com o que ocorre no Brasil. Não é pelo fato de fazer uma crítica sobre um ritual que eu - e muitos espanhóis - considero crueldade, que não tenho o direito de me indignar. Uma coisa não elimina a outra. Falo de espanhóis porque a minha linha no blog é de fazer cartazes sobre acontecimentos europeus, porque estou morando provisoriamente aqui. É um enfoque de criação que eu adotei. Será um enfoque errado?
Queria entender apenas se uma cultura, por ser mais antiga do que a nossa, transforma automaticamente nossa compreensão em rasa - se cultura é cultura, por que o aparente juízo de valor? Não podemos ter amplitude para isso? Ou rasos somos todos que tentamos entender as outras culturas que não as nossas (e então acabou a antropologia, porque só podemos falar sempre da nossa cultura - adeus Lévi Strauss e companhia). Adeus ciência política. Só brasileiros falam de brasileiros, só americanos de americanos, só chineses de chineses. Na veerdade não é só a antropologia e as ciências políticas. Sem a indignação muito da ciência se perderia, por exemplo.
É importante se relativizar diante de outras culturas mas isso funciona bem na teoria e não na prática. Se somos obrigados a relativizar tudo, temos que sempre tolerar o que é aceito socialmente por outra cultura sem discutir se é bom ou ruim.
Por exemplo, para alguns povos a cultura fundamentalista de morrer pela religião - a Jihad - aceita tranquilamente o terrorismo. É outra cultura, é aceito socialmente entre eles. Devemos aceitar também? Posso entender a lógica deles, mas daí a aceitar é outra história. Assim cada um faz o que quiser e fim de papo. Então vira o caos.
É importante também que relativizemos a nós mesmos e nossa capacidade de indignação com o que vemos, como habitantes do mundo cada vez mais globalizado, com as fronteiras culturais cada vez mais borradas por causa da velocidade das novas mídias.
Acho que você está certa em alguns pontos de relativização. Mas discordo em reafirmar meu direito inalienável, mesmo sendo brasileiro, com um país cheio de problemas e de uma cultura muito mais nova, de olhar para o rabo dos espanhóis, e do touro.

Bruna Axt disse...

Achei o cartaz lindo e sim, sempre comemoro quando algum cidadão é morto ou machucado pelo touro. Não interessa a cultura, hoje em dia todo mundo sabe o sofrimento ao qual o bicho é submetido. Se não sabe... aí é ignorante e merece morrer mesmo. Menos um no mundo. Hahhahahhaha.

Beijo, querido!

Anônimo disse...

Ok Muanis, volto atrás sobre o fato de não podermos opinar sobre os outros porque somos brasileiros. Você tem toda a razão, afinal o mundo inteiro tem o dito rabo preso...portanto, ninguém tem moral para se perfazer ou se rebaixa perante os outros. Porém, seu texto critica o rabo dos espanhóis e os chama de idiotas. Com isso não posso concordar, ao menos nessa situação. Aceitar ou não o ritual vai de cada um, mas acho que pelo menos poderíamos entender o motivo pelo qual isso acontece para não condenar aqueles que vivem nesse círculo e não têm uma visão externa dos fatos. Vamos ter uma olhar mais “romântico” sobre o ritual e tentar entendê-lo. Eu, como semioticista, interpreto (superficialmente) essa festa como rememoração ao santo que foi tão perseguido por cruéis governantes por querer difundir uma nova religião. Daí a relação do boi que persegue o povo. É a representação da tirania do governo (ou do rei), através do boi, sobre o povo. É o povo que “morre” (ou sofre a repressão, a ditadura, etc) por querer ter uma visão diferente dos fatos, por querer ter direito à escolha. Concordo com você, como já havia dito, que é um ritual extremamente cruel, não só com o boi (ecologicamente falando), mas com o povo também (humanamente falando). Mas, se pararmos para pensar, será que essa situação não continua até hoje, seja na Espanha, Brasil ou China? Não será então por isso que esse ritual continua sendo feito? Vamos lembrar do conceito sobre inconsciente coletivo de meu adorado Jung! Por isso falei sobre a rasa compreensão. É pelo fato de não tentarmos entender a raiz da situação e não ficar julgando apenas os resultados, seja quem for, da nação que for. Você pode se indignar com o que quiser, você tem todo o direito, mas, para ser sincera, não acho que seja nessa fonte que a ciência beba. O indignado é passional, a ciência é racional. Continuo achando o cartaz do caralho! Abs.

Bruno Porto disse...

Atento ainda que o autor não chamou os espanhóis de "idiotas", mas que se referiu a "89 idiotas ficaram feridos, apenas no primeiro dia", independente de sua nacionalidade.

Anônimo disse...

Eu concordo em tudo com o Felipe. O animal, assim como o humano sente dor, medo, frio e não há cultura que mude isso. Em alguns lugares, faz parte da cultura um homem com AIDS estuprar uma menina virgem (normalmente crianças) para ser curado da AIDS. Não tem como ser conivente com tais culturas sem se revoltar com a crueldade que elas causam.

Unknown disse...

Torço pela bela arte do cartaz, estamos fartos de tanta desgraça, seja ela no Brasil ou em qualquer outro lugar.

lis disse...

Cartaz lindo!
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Talvez seja a forma de "pagar",isso de correr do touro, infinitos espectáculos literalmente gratuitos...
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No final do conto "O Minotauro", do Borges, Teseu diz para Ariadne: Ele apenas se defendeu.
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Eduardo Bittencourt disse...

Desculpe-me Joseli, mas tenho que pender para as argumentações do Muanis. Sou um crédulo da evolução humana que sempre se deu, seja positivamente ou não, através das críticas, revoltas ou qualquer manifestação contrária ao que se julga errado por um grupo dissidente pertencente a um mesmo contesto e cultura. As críticas, revoltas e revoluções são os mecanismos de evolução humana, portanto devem ser respeitadas independentemente das nossas convicções individuais. Pois graças a elas, você como mulher hoje pode estudar, votar, dar um basta em uma relação que não mais lhe convém sem ser apontada na rua como uma desclassificada. Querendo ser mais enfático e iconográfico, graças a elas que você não mora mais em uma caverna e não é mais arrastada pelos cabelos. Ou seja, mudar é bom, e lutar para que as coisas mudem também.